E
a cobra pariu... Não se sabe quem é o pai. Talvez possa ser o boto ou quem sabe
até algum habitante da floresta que a criatura passou a se esconder já faz
alguns anos. Na profusão de imagens que ela "deixa" escapar como se
fossem ao acaso, vemos enfim o produto de suas nada benditas entranhas: seu filhote.
A cobra peituda que amamenta. A cobra que finge ser singela ao simular que desfolha
algumas pétalas. A cobra prenha. Seu olhar de cobra perdido no tempo. A cobra
não tem jeito. É ridícula por demais da conta. Acredita em uma realidade que é
avessa ao seu verdadeiro eu. A cobra pariu e agora quer casar. Neste ponto
caímos na primeira pergunta: quem é o pai do filhote da cobra? Quem fecundou a
cobra? Ah quem sabe um poema possa ter sido o pai! A cobra se acha escritora.
Usa nanquim em seu fino rabo chacoalhante e suja papéis sem fim com suas
sandices tolas. A vida da cobra é estar no meio do mato agora. Se passar por
quem nunca foi. Uma vidinha fake, um olhar vazio e triste, um filhote sem pai
para ter que criar.
Comentários